Vários santos deixaram fixado nas pedras a marca de seus pés. Talvez a mais antiga lenda a tal respeito seja a de Sumé – nome por que era conhecido, entre os indígenas, o apóstolo São Tomé, que veio do Oriente a pé, atravessando os próprios mares, pregar os Evangelhos entre os índios, e aos quais ensinou a cultura de várias plantas, bem como o fabrico do vinho e da farinha de mandioca.
Desse santo varão, segundo a lenda, ficaram gravados em pedra vestígios dos seus pés, no lugar denominado Gurjaú de Baixo, sete léguas distante de Recife, conforme o refere Frei Jaboatão.
Mais freqüente que as pegadas ou sinais de Deus, da Virgem e dos santos são as marcas que o Diabo deixou nas terras por onde perambulou matreiro.
No Espírito Santo, ou mais precisamente em Vitória, na estrada do Contorno, no local chamado Inhanguetá, se encontra, em pedra rasa, a prova de que por aqui também andou o Diabo.
A lenda capixaba do Pé do Diabo ou da Pedra do Diabo pode ser assim resumida: em Inhanguetá (ou Nhanguetá, nome que, só por si, já faz lembrar o Diabo) viveu outrora um homem muito rico, avarento e mau que, para aumentar suas propriedades, ia se apossando, deslealmente, das terras alheias. Talvez por castigo do céu, terrível praga lhe foi assolando e destruindo a fazenda, e ele começou a empobrecer. Foi quando o Diabo lhe apareceu e com ele firmou um pacto terrível: à meia-noite de uma sexta-feira pré-fixada o homem lhe entregaria o próprio filho. Isto se daria em local próximo à fazenda e, em troca, o Diabo lhe aumentaria as posses e a fortuna. A mulher do fazendeiro teve conhecimento do ajuste e, devota de Santo Antônio, a este pediu, em orações, salvasse o filho. Na meia-noite do dia aprazado, o homem levou o filho ao lugar que ajustara – uma pedra rasa – e ali o deixou sozinho, afastando-se rápido. O Diabo logo aparece e tenta carregar o moço. Foi quando lhe surge pela frente Santo Antônio que, riscando uma cruz na pedra – com um chicote, dizem algumas versões – valentemente acomete o Demo. Este, em pouco, vencido, some-se na escuridão da noite. Na superfície da pedra ficaram as marcas dessa luta: a cruz e as pegadas do santo e do Diabo, a deste bem maior.